sexta-feira, 27 de junho de 2008

«RECURSOS HUMANOS»: UM FILME RETRATO DO MUNDO DOS RECURSOS HUMANOS

Uma fábrica com algumas dezenas de trabalhadores. A implementação das 35 horas semanais. Um plano de reestruturação que leva a despedimentos. E, no meio de toda a história, a relação entre um pai, que trabalha na linha de produção, e o filho, que pertence ao departamento de RH da empresa. Este é o contexto de «Recursos Humanos», um filme que retrata na perfeição os dilemas laborais e a sua influência na vida familiar.
«O título ‘Recursos Humanos’ é antes de mais uma reacção ao cinismo da expressão. O ser humano é gerido da mesma maneira que se gerem stocks ou capitais... Tive vontade de jogar com esse duplo sentido e ir além das expressões administrativas codificadas para poder falar sobre os recursos do humano». É com estas palavras que o realizador francês Laurent Cantet justifica o título do seu primeiro filme, que estreou em Lisboa no passado dia 30 de Março.
O filme retrata uma história simples: Franck, um estudante de 22 anos, decide voltar para casa dos pais com o objectivo de estagiar no departamento de Recursos Humanos duma pequena empresa metalúrgica, onde o seu pai trabalha há mais de 30 anos. Devido ao seu entusiasmo, Franck ganha rapidamente a simpatia e o apoio da direcção. Assim, é convidado a participar nas negociações entre a empresa e sindicato sobre o polémico tema das 35 horas semanais – que continua a ser actualmente a questão laboral mais em discussão em França. «A lei das 35 horas semanais tem repercussões imediatas nas vidas íntimas das pessoas já que regula precisamente o que é suposto escapar ao mundo do trabalho: o tempo de lazer, o tempo que temos para nós próprios», afirma Laurent Cantet. Depois de analisar a situação laboral da fábrica, e com base na sua experiência académica, Franck propõe uma solução: consultar directamente os trabalhadores, sem a intermediação do sindicato, sobre a questão das 35 horas semanais.
A solução é colocada em prática. Tudo corre bem, até que Franck descobre uma dura verdade: o seu trabalho está a ser usado para reduzir alguns dos efectivos, incluindo o seu pai.
Com este filme, que se inscreve dentro na vertente realista do que se conhece como «o novo cinema social francês», Cantet tem como objectivo mostrar alguns dos problemas laborais mais pertinentes na sociedade moderna: emprego precário, falta de motivação, instrumentalização do ser humano, ou seja, tudo aquilo que, de forma silenciosa, acaba com a dignidade dos trabalhadores.
A comprovar a qualidade da película da Laurent Cantet estão os prémios que o filme recebeu nos mais variados festivais europeus e americanos, entre os quais dois Césares 2001 (Melhor Primeira Obra e Melhor Actor Revelação). Olivier de Bruyn, crítico da revista francesa «Premiére», afirma peremptoriamente: «A lei das 35 horas serviu ao menos para uma coisa: um bom filme».

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